Ciência Social: O 7 de Setembro e o Bicentenário da Independência

“Independência
ou morte”
- Dom Pedro I, 7 de Setembro de 1822
7 DE SETEMBRO
Estamos em 2021, pintando o sete para compreender nosso lugar no Brasil. A data de 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, sempre foi um marco na memória coletiva do país, representada por comemorações e desfiles cívicos-militares.

Quem viveu os anos de ditadura militar, dificilmente deixou de escapar destes desfiles, que tinham como principal intuito, reforçar o sentimento de identidade nacional.
Em Brasília, tradicionalmente ocorre o desfile de membros das forças armadas brasileiras e a exibição da esquadrilha da fumaça na esplanada dos ministérios. Nas cidades do país, temos comemorações nas escolas e o enfoque da data como um marco de liberdade e soberania nacional.
Em 2021, a data será marcada por manifestações populares, tanto a favor, como críticas ao atual governo do Presidente Jair Bolsonaro. A crise entre os três poderes será o centro do debate das manifestações. Mas será que a população realmente conhece sua história?
Saiba 7 importantes acontecimentos que marcaram a independência do Brasil:
Foi com a vinda de Dom João VI e da família real para o Brasil, fugidos das guerras Napoleônicas, que o Brasil deixa de ser oficialmente colônia de Portugal, se tornado Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Entretanto, foi apenas com a o rompimento, em 7 de setembro de 1822, que o país passa a ter independência política e econômica de Portugal;
O reconhecimento da independência do Brasil pelos portugueses, no entanto, só ocorreu três anos depois, em 29 de agosto de 1825, mediante pagamento de indenização e com o compromisso firmado pelo Brasil de não incentivar a independência das colônias portuguesas na África. Este reconhecimento se deu com a assinatura do Tratado de Amizade e Alianças entre Brasil e Portugal;
A primeira Constituição do país foi outorgada por Dom Pedro I, nele se reafirmava a condição de Monarquia hereditária do país, que unificava o país em um governo central e mantinha a maioria dos privilégios da elite econômica;
Essa foi a Constituição com duração mais longa na história do país, totalizando 65 anos. Nela tínhamos a divisão entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciária, todos submetidos ao Poder Moderador de Dom Pedro I, isto é, o poder do Imperador não poderia ser limitado pelos outros poderes;
Só tinha direito ao voto os homens livres e proprietários de terra e apenas de acordo com seu nível de renda. Isso excluía a maioria da população da participação política;
A escravidão foi mantida. Não existia liberdade religiosa, já que o Estado era oficialmente católico, sendo proibido a construção de templos;
O grito “Independência ou morte”, também conhecido como Grito do Ipiranga, que foi idealizado na pintura do pintor paraibano Pedro Américo [na capa desse post], retrata uma visão romantizada da independência do Brasil, onde o príncipe regente aparece em cima de seu cavalo, no alto da colina, às margens do riacho do Ipiranga e cercado por soldados. Porém, segundo relatos históricos, ele montava uma égua ou mula de carga e enfrentou uma grande ‘dor de barriga’ neste dia.

Como descreveu Laurentino Gomes, em seu artigo para o El País, “A cena real é bucólica e prosaica, mais brasileira e menos épica do que a retratada no quadro de Pedro Américo. E, ainda assim, importantíssima. Ela marca o início da história do Brasil como nação independente.”
Se ao ler estes sete fatos, o único que você se lembra sobre o 7 de Setembro, é o grito “Independência ou Morte”, é importante buscar entender todo o processo histórico que nos levou a independência de Portugal e como ele foi marcado por avanços no campo político e econômico, mas também pela manutenção de uma herança colonial, como a instituição de uma Monarquia hereditária e a manutenção do trabalho escravo.
Entender cada um destes fenômenos é crucial para saber como o Brasil nasceu como nação independente e como os brasileiros se enxergam como país. Do 7 de setembro até a constituição cidadã de 1988, muita coisa aconteceu.
2021
Voltemos a 2021. Ao buscar no dicionário o termo independência, encontramos as seguintes definições:
Estado, condição, caráter do que ou de quem goza de autonomia, de liberdade com relação a alguém ou algo;
Caráter daquilo ou daquele que não se deixar influenciar, que é imparcial; imparcialidade;
Caráter de um estado que não se acha submetido à soberania política de uma outra nação; autonomia política;
No momento em que o país vive um clima de incerteza política, crise sanitária e dificuldades econômicas, o certo é saber ter discernimento, e à luz da história, ir as ruas munido da certeza de que todos somos brasileiros.
Que as manifestações programadas para 7 de setembro seja o primeiro passo, como foi à época da independência, na busca da construção de um novo país, que é de todos os brasileiros. Um país menos desigual, mais livre, mais cidadão e mais justo. Que se mire nos percalços do passado para correção dos rumos, em busca de um futuro melhor.
A democracia brasileira foi forjada nas ruas, e nos momentos de crise, ela sempre foi caixa de ressonância e expressão livre do pensamento; que esse grito, que será no dia 7 de setembro, seja o do entendimento, da união, do respeito e da liberdade.

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Daniel Marinho é formado em Ciências Sociais pela UNICAMP,
com especialização em Marketing Político.
Trabalha com pesquisas há mais de 15 anos e atua como sociólogo
e cientista político do Instituto Guimarães desde a sua fundação.
FONTES:
1. SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 235.
2. SODRÉ, Nelson Werneck. As razões da independência. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978.
3. NEVES, Lúcia Maria B. P. das & MACHADO, Humberto Fernandes. O Império do Brasil. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999.
4. SILVA, Daniel Neves. "Constituição de 1824"; Brasil Escola. Disponível aqui.
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