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  • Daniel Marinho

Ciência Social: O 7 de Setembro e o Bicentenário da Independência


Reprodução da pintura "Independência ou Morte" de Pedro Américo

“Independência

ou morte”

- Dom Pedro I, 7 de Setembro de 1822

7 DE SETEMBRO

Estamos em 2021, pintando o sete para compreender nosso lugar no Brasil. A data de 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, sempre foi um marco na memória coletiva do país, representada por comemorações e desfiles cívicos-militares.


Desfile de 1947 na Avenida Presidente Vargas-RJ
Desfile de 1947, Av. Presidente Vargas-RJ

Quem viveu os anos de ditadura militar, dificilmente deixou de escapar destes desfiles, que tinham como principal intuito, reforçar o sentimento de identidade nacional.


Em Brasília, tradicionalmente ocorre o desfile de membros das forças armadas brasileiras e a exibição da esquadrilha da fumaça na esplanada dos ministérios. Nas cidades do país, temos comemorações nas escolas e o enfoque da data como um marco de liberdade e soberania nacional.


Em 2021, a data será marcada por manifestações populares, tanto a favor, como críticas ao atual governo do Presidente Jair Bolsonaro. A crise entre os três poderes será o centro do debate das manifestações. Mas será que a população realmente conhece sua história?


Saiba 7 importantes acontecimentos que marcaram a independência do Brasil:

  1. Foi com a vinda de Dom João VI e da família real para o Brasil, fugidos das guerras Napoleônicas, que o Brasil deixa de ser oficialmente colônia de Portugal, se tornado Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Entretanto, foi apenas com a o rompimento, em 7 de setembro de 1822, que o país passa a ter independência política e econômica de Portugal;

  2. O reconhecimento da independência do Brasil pelos portugueses, no entanto, só ocorreu três anos depois, em 29 de agosto de 1825, mediante pagamento de indenização e com o compromisso firmado pelo Brasil de não incentivar a independência das colônias portuguesas na África. Este reconhecimento se deu com a assinatura do Tratado de Amizade e Alianças entre Brasil e Portugal;

  3. A primeira Constituição do país foi outorgada por Dom Pedro I, nele se reafirmava a condição de Monarquia hereditária do país, que unificava o país em um governo central e mantinha a maioria dos privilégios da elite econômica;

  4. Essa foi a Constituição com duração mais longa na história do país, totalizando 65 anos. Nela tínhamos a divisão entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciária, todos submetidos ao Poder Moderador de Dom Pedro I, isto é, o poder do Imperador não poderia ser limitado pelos outros poderes;

  5. Só tinha direito ao voto os homens livres e proprietários de terra e apenas de acordo com seu nível de renda. Isso excluía a maioria da população da participação política;

  6. A escravidão foi mantida. Não existia liberdade religiosa, já que o Estado era oficialmente católico, sendo proibido a construção de templos;

  7. O grito Independência ou morte, também conhecido como Grito do Ipiranga, que foi idealizado na pintura do pintor paraibano Pedro Américo [na capa desse post], retrata uma visão romantizada da independência do Brasil, onde o príncipe regente aparece em cima de seu cavalo, no alto da colina, às margens do riacho do Ipiranga e cercado por soldados. Porém, segundo relatos históricos, ele montava uma égua ou mula de carga e enfrentou uma grande ‘dor de barriga’ neste dia.


Bandeira Imperial Brasileira do Período do Segundo Reinado. Acervo do Museu Imperial em Petrópolis
Bandeira Imperial Brasileira do Período do Segundo Reinado.

Como descreveu Laurentino Gomes, em seu artigo para o El País, “A cena real é bucólica e prosaica, mais brasileira e menos épica do que a retratada no quadro de Pedro Américo. E, ainda assim, importantíssima. Ela marca o início da história do Brasil como nação independente.”


Se ao ler estes sete fatos, o único que você se lembra sobre o 7 de Setembro, é o grito “Independência ou Morte”, é importante buscar entender todo o processo histórico que nos levou a independência de Portugal e como ele foi marcado por avanços no campo político e econômico, mas também pela manutenção de uma herança colonial, como a instituição de uma Monarquia hereditária e a manutenção do trabalho escravo.


Entender cada um destes fenômenos é crucial para saber como o Brasil nasceu como nação independente e como os brasileiros se enxergam como país. Do 7 de setembro até a constituição cidadã de 1988, muita coisa aconteceu.


2021

Voltemos a 2021. Ao buscar no dicionário o termo independência, encontramos as seguintes definições:

  1. Estado, condição, caráter do que ou de quem goza de autonomia, de liberdade com relação a alguém ou algo;

  2. Caráter daquilo ou daquele que não se deixar influenciar, que é imparcial; imparcialidade;

  3. Caráter de um estado que não se acha submetido à soberania política de uma outra nação; autonomia política;

No momento em que o país vive um clima de incerteza política, crise sanitária e dificuldades econômicas, o certo é saber ter discernimento, e à luz da história, ir as ruas munido da certeza de que todos somos brasileiros.


Que as manifestações programadas para 7 de setembro seja o primeiro passo, como foi à época da independência, na busca da construção de um novo país, que é de todos os brasileiros. Um país menos desigual, mais livre, mais cidadão e mais justo. Que se mire nos percalços do passado para correção dos rumos, em busca de um futuro melhor.


A democracia brasileira foi forjada nas ruas, e nos momentos de crise, ela sempre foi caixa de ressonância e expressão livre do pensamento; que esse grito, que será no dia 7 de setembro, seja o do entendimento, da união, do respeito e da liberdade.



Desfile de 7 de Setembro em Campinas, 2019
Desfile de 7 de Setembro em Campinas, 2019

Para mais Ciência Social, acesse:


Daniel Marinho é formado em Ciências Sociais pela UNICAMP,

com especialização em Marketing Político.

Trabalha com pesquisas há mais de 15 anos e atua como sociólogo

e cientista político do Instituto Guimarães desde a sua fundação.



FONTES:

1. SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 235.

2. SODRÉ, Nelson Werneck. As razões da independência. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978.

3. NEVES, Lúcia Maria B. P. das & MACHADO, Humberto Fernandes. O Império do Brasil. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999.

4. SILVA, Daniel Neves. "Constituição de 1824"; Brasil Escola. Disponível aqui.


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